quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Excelente artigo sobre bigamia, ou como utilizar um macho para várias femeas

Boas a todos, este ano também eu vou utilizar 1 macho para 2 femeas. Bem, como é a primeira vez que vou utilizar tal sistema, andei a investigar pela internet, para saber um pouco mais sobre esta prática de acasalamento. Numa dessas buscas, encontrei este artigo, que explica de forma muito simples como proceder nestes casos. Este artigo foi retirado de uma revista, espero que a sua publicação não me traga problemas.
Se alguem tiver algo a acrescentar, ou se algo não estiver correcto, por favor deixe comentário, para rectificação.

O PAPEL DA BIGAMIA NA CANARICULTURA


Este artigo visa esclarecer os novos criadores do emprego da bigamia e de como tal prática possibilita a obtenção de um bom nível de qualidade nos plantéis com um custo mais viável.
É sempre bom alertar os interessados, entretanto, que tal sistema não é o mais prático, pois manter um número menor de reprodutores machos também significa despender maior tempo em manejo.
De um modo geral, o emprego de um macho para duas ou até cinco fêmeas (como é utilizado na Itália por alguns criadores) possibilita um investimento menor em aves de excelente qualidade, mas exige maior atenção e cuidado da parte do criador. Já ouvimos de jovens criadores, aliás com é o nosso caso, que o esquecimento de mudar um macho de gaiola num determinando período do dia, gerou ovos brancos. Mas tudo isso é um risco previsto, pois a bigamia exige maior dedicação por parte do seu criador. Para facilitar, quando um leigo trabalha junto do plantel, sugerimos que se corte as penas do rabo do macho em linha recta ou que se empregue anilhas plásticas da mesma cor para cada grupo de fêmeas e para o macho que está a ser utilizado. No nosso caso, preferimos o segundo sistema. Caso o tratador não saiba separar o macho das fêmeas, o que não é raro acontecer, é aconselhável utilizar um anel de cor único para todos os machos do plantel.
De um modo geral, a grande maioria dos criadores emprega o método tradicional, mantendo o casal fixo durante todo o período de cria. Muitos acreditam que os filhotes são melhor tratados quando a fêmea é ajudada pelo macho.
Não acreditamos que isso seja uma verdade indiscutível, já que muitos machos nem sequer se aproximam dos filhotes. Ao contrário, costumam até atrapalhar, quando tendem galar a fêmea acabam derrubando ovos ou esmagando filhotes. Outra alegação comum entre os defensores do casal fixo é de que, quando o macho é retirado, certas fêmeas deixam de tratar sua prole ou abandonam mesmo o ninho. Na bigamia, isso não ocorre, já que o macho deve ser retirado definitivamente quando a fêmea deposito o quarto ovo. Além disso, uma fêmea que não trata os filhotes ou abandona-os por qualquer motivo, não está apta para a criação e deve ser descartada.
É interessante mesmo alertar para o facto de que os criadores italianos não empregam forro fixo ou descartável, como fazemos, pois acreditam na máxima de que uma fêmea que não tece o seu ninho com pedaços de cordel, não será uma boa mãe. A experiência própria tem-nos demonstrado que isso também é uma verdade.
Numa das nossas viagens pela Europa, no mês de fevereiro, período de acasalamento na Itália, observamos que grande parte dos criadores aplicam o método da bigamia. Em outubro de 1994, ouvimos vários criadores italianos falarem do seu sistema de acasalamento. Mas como nem tudo o que se ouve é aplicado da maneira que se fala, aproveitamos nosso para ver “in loco” um pouco da grande experiência desses grandes criadores.
O mês de fevereiro na Europa, é ainda bastante frio, é utilizado para a selecção final do plantel e para o acasalamento. Tivemos o prazer de acompanhar ambos os processos.
Normalmente, são reservados dois machos muito parecidos para um grupo de cinco fêmeas também bem semelhantes. Cada um deles passa por todas elas, evitando-se que um falhe e ovos brancos já na primeira rodada. Caso este falhe, recomeça-se com o outro na rodada seguinte.
Durante as nossas conversas com esses criadores italianos, todos adeptos há muitos anos do emprego da bigamia, descobrimos que o grande sucesso (média de ovos férteis bastante elevada), depende da preparação e manutenção do macho, que é retirado da última fêmea antes de anoitecer e descansa até a manhã seguinte numa pequena gaiola colocada sobre as demais.

Antes de empregarmos dados retirados de pesquisas mais recentes sobre a bigamia, é bom que discutamos determinados aspectos que conduzem à reprodução das aves em cativeiro:
Na natureza, sabemos que as aves apresentam uma tendência natural à monogamia, o que não significa que não existam infidelidade nas relações entre um casal fixo (a média mais baixa de infidelidade é de 20%em algumas espécies).
Existem estratégias adoptadas por machos e fêmeas para atingir o objectivo do acasalamento extraconjugal. Ao contrário do que possa parecer, as infidelidades aumentam o sucesso reprodutivos e garantem o aumento de genes desejáveis de machos portadores de excelente material genético (só os mais férteis e fortes atingem o objectivo da cópula e reprodução).
Mas não só aos machos interessa essas infidelidade, já a natureza gera nas fêmeas o interesse de produzir filhotes melhores e mais saudáveis.
Pesquisas recentes demonstram que o índice de fertilidade nos machos aumenta quando se acasalam com outra fêmea que não a do casal fixo.
De um modo geral, o macho de algumas espécies (mandarins por exemplo) atinge entre 54% e 84% de fertilidade com uma fêmea nova (o que nos parece um índice bastante desejável).
Na monogamia, a experiência própria demonstra que, com raras excepções, esse índice fica entre 30% e 75%. A infidelidade e a bigamia estimulam tantos machos como fêmeas.
Nos machos, o período entre o novo acasalamento e a aceitação da fêmea não é de todo perdido, ao contrário, pois serve para amadurecimento dos espermatozóides.
A quantidade de espermatozóides liberada nesses casos é em torno de sete vezes maior, o que possibilita sua passagem peço canal vaginal da fêmea com maior rapidez. O canal vaginal é um meio ácido, portanto hostil aos gametas masculinos. Cabe lembrar ainda que a fecundação nas aves não ocorre no momento da copulação, mas posteriormente. Os espermatozóides ficam guardados no oviduto, sendo liberados aos poucos, já que uma fêmea só produz um ovo por dia para ser fecundado.
Em artigo recente sobre uma pesquisa desenvolvida com mandarins, foi provado que um macho que mantém relações com uma única fêmea, tem seu estoque de espermatozóides e a velocidade destes reduzida pela metade. “Mas, ao esperar que outras fêmeas cedessem às suas investidas, eles estariam melhorando a qualidade de seus espermatozoides”.
Alguns conselhos tornam-se úteis àqueles que resolvam utilizar a bigamia no próximo ano, já que a experiência mostrou-nos que devemos levar em conta certos cuidados na preparação do plantel para o período de cria, principalmente se a bigamia for empregada:

1) Individualização dos machos pelo menos dois meses antes do acasalamento. É preferível que um não veja o outro;

2) Manutenção das fêmeas em cômodo separado para que não ouçam o canto dos machos. Evita-se assim o estabelecimento de preferência;

3) Manter grades separando o casal durante pelo menos 15 dias;

4) Manter os casais sem que um veja o outro; e

5) Manter as gaiolas das fêmeas em sequência vertical para facilitar o manejo.

É aconselhável ainda a introdução de novas aves no plantel nos anos seguintes, para evitar-se a consanguinidade. Entretanto, é desejável o emprego de pai e filhas, mãe e filho, quando geneticamente a qualidade de ambos é indiscutível.
Um dos grandes méritos da bigamia, esse sistema aparentemente trabalhoso é facilitar a formação de quartetos, já que os filhotes originam-se de um mesmo pai e de fêmeas fisicamente semelhantes, normalmente irmãs.

Sem dúvida o aproveitamento genético de machos de grande qualidade é outra vantagem desejável por todos nós não é de hoje que sabemos que um grande campeão não nasce por acaso, mas resulta de um bom acasalamento entre canários de excelente qualidade. Não basta, entretanto, acasalar dois campeões; mas sim utilizar o material genético de cada um de maneira a obter qualidades, eliminando os possíveis defeitos.
Não são poucos os grandes criadores brasileiros (Blasina, Beraldi, Celso Ramalho, Basile, Gracioli) e Italianos (Malavasi, Bertoline, Manfredini, Dr. Bruno, entre outros) que empregam o sistema da bigamia e que tivemos a oportunidade de visitar.
É bom lembrar que eles não são campeões à toa, ou apenas porque empregam esse sistema, mas principalmente por aplicarem-se no estudo genético da ornitologia e na observação diária de seu plantel. São verdadeiros aficionados da Canaricultura, pessoas que buscam o prazer através da perfeição obtida ao criarem um belíssimo exemplar.
Não é apenas orgulho que observamos em suas fisionomias ao criarem um campeão, mas a felicidade de terem atingido um objetivo que custou anos de trabalho e dedicação.
Quem participa dos campeonatos, sabe muito bem que a ornitologia brasileira deixou de lado o amadorismo de algumas décadas atrás e atingiu um degrau inesperado em período tão curto. Isso fez com que todos nós investíssemos na qualidade do plantel para não ficarmos para trás.
Ninguém, pelo menos que eu saiba, cria actualmente canários apenas para comercializar em lojas de aves.
Afinal, de que adiantaria comprarmos tantas matrizes importadas para entregarmos filhotes de boa qualidade para leigos que desejam um canarinho para cantar?

Nesse sentido, é preferível investir em pássaros de primeira linha, obtendo resultados satisfatórios mais rapidamente.

Extraído da Revista da SPCO –

45ª Exposição de Canários – 1998.

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